Recentemente, ouvi do economista Paulo Rabello de Castro que, quando o comércio internacional vai bem, o mundo fica em paz.
Essa afirmação pode ser complementada com uma frase meio óbvia do falecido “Chorão”, do Charlie Brown Jr.: “Um homem, quando está em paz, não quer guerra com ninguém”, o que vale para qualquer ser humano, aliás.
Durante suas explanações, ele também comentou sobre a proposta do novo governo dos EUA de privilegiar a eficácia e redução da burocracia pública, como forma de fomentar o crescimento econômico do país, em função do cenário atual de disputas geopolíticas e comerciais.
Trump é adepto de frases bombásticas e atitudes que parecem inconsequentes, mas que escondem intenções bem pragmáticas: negociações e renegociações, principalmente. Ela sabe a importância dos EUA no contexto mundial, e pretende explorar isso.
Não à toa, conseguiu arregimentar um significativo grupo de empresários bem-sucedidos em seu rol de colaboradores. Também pretende trazer a produção industrial das grandes corporações de volta para os EUA, acenando com uma potencial redução de impostos, também visando a geração de empregos e investimentos em alta tecnologia.
Com isso, fortalecendo a economia do país, ele pretende reduzir tensões sociais internas e fortalecer o protagonismo comercial dos EUA no contexto internacional.
No âmbito interno, ele tem a visão de que a paz depende do bom desempenho econômico do país. No externo, há que se considerar o impacto dessa política no mundo, mas também o que ela pode ser adotada em outros países, na busca por uma estabilidade global.
De fato, quando a economia vai bem, com participação e benefícios para todos os países e suas populações, o risco de conflitos internos e externos é reduzido, pois não há espaço para interesses hegemônicos, extremismos políticos, ideológicos ou religiosos, nem para o surgimento de lideranças carismáticas associadas.
Já houve períodos de relativa paz, porém vinculados a impérios efetivos ou virtuais, baseados em dominação militar, violenta e opressora, ou dependência econômica, não menos prejudicial. Foi o caso da “Pax Romana”, da “Pax Britannica” e da “Pax Americana”. O próprio fato dessas “Paxes” estarem associadas a impérios ou países explica sua efemeridade, e o quanto inspiram rebeliões e revoluções.
Atualmente, a disputa entre EUA e China sobre questões relativas à moeda comercial e mercados, e conflitos bélicos, alguns crônicos, mundo afora refletem um período preocupante para a estabilidade mundial.
É certo que cada país tem características econômicas próprias, mas o ideal é que haja equilíbrio entre importações, exportações e consumo interno, como meio de geração de empregos e movimentação de outros setores, com um objetivo que, embora não apareça claramente na “conta”, é fundamental: evitar tensões sociais.
Muito mais do que poder de compra, isso envolve criar um ambiente de bem-estar social efetivo, que inclua perspectivas de evolução pessoal, motivação para o desenvolvimento, etc.
Não há como sustentar isso artificialmente, ao menos não por muito tempo.
Alguns governos infelizmente não entendem assim, preferindo manter o poder pela força, pela alienação, ou ambos, mantendo seus países subdesenvolvidos em proveito próprio, sempre “à venda” para interesses externos, ou vulneráveis a eles.
A complexidade da economia mundial sempre gerou motivos para guerras. Não raro, elas serviram como uma espécie de desvio de atenção de problemas político-econômicos internos, geralmente associada a discursos nacionalistas ou revolucionários. Aliás, guerras e revoluções geralmente têm motivos nem sempre claros.
No entanto, sempre são palco para poucos idealistas e muitos oportunistas, desocupados, psicopatas e gente que tem como único objetivo na vida ser contra alguma coisa, que nelas podem exercitar livremente seus piores instintos. Não faltam exemplos históricos e atuais.
Também há os especuladores, que não se importam em destruir a economia de países em nome de seus investidores. Embora não usem armas ou declarem guerras, eles têm sangue nas mãos, são assassinos em massa! Os vendedores de armas e traficantes de drogas também estão nesse mesmo rol, mas não falta quem “passe pano” para eles. Não à toa, o crime tem conseguido ser mais organizado do que alguns países, com suas legislações frouxas e corrupção recorrente.
Também existem outros tipos de desvios de atenção, geralmente associados a modismos alienantes, que acabam se tornando meio de vida de algumas pessoas que nada de efetivamente útil fazem pela sociedade.
Mais uma vez, é a instabilidade econômica que permite seu surgimento e proliferação, fazendo com que pessoas, sobretudo jovens, sejam condicionadas a abraçar temas específicos. “bandeiras”, ou integrar grupos radicais de todos os tipos, em busca da sensação de pertencimento, sem avaliar o quanto um interesse singular afeta outros, às vezes muito mais importantes, até porque são os que viabilizam os ideais que defendem.
Guerras, revoluções e contrarrevoluções normalmente tiveram forte participação de questões econômicas, mesmo quando outros fatores tenham parecido determinantes. Isso vale até para conflitos religiosos e ideológicos.
Sempre houve disputas por áreas férteis, acessos aquaviários, matérias-primas e territórios, entre outros, associados a pilhagens, escravização ou tentativas de eliminar culturas ou formas de pensar consideradas não controláveis ou inadmissíveis.
Para viabilizar essa “Pax Oeconomica”, cada um precisa fazer sua “lição de casa”, o que inclui criar condições internas para o desenvolvimento econômico, privilegiando educação, pesquisa científica de utilidade prática na inovação e aprimoramento tecnológico, estabilidade jurídica, empreendimentos, geração de empregos, redução de burocracia estatal e combate ao crime organizado e à corrupção.
O ideal quase utópico é que esse tipo de visão estratégica seja padrão em todos os países, ou que ao menos haja colaboração entre eles, em nome de interesses comuns, pois nem todos têm o mesmo potencial econômico. Porém, dependendo de quem governa, manter o poder pode ser a negação de tudo isso.
No entanto, a existência de blocos tem resultado em disputas comerciais que, em alguns casos, resultaram em belicosidade, algo bastante comum no mundo corporativo, em que uma empresa é comprada para ser extinta, eliminando a concorrência, com viés de oligopólio ou monopólio. Já aconteceu com cidades-estado, civilizações e países.
Esse desequilíbrio, em parte, é resultante de um processo de globalização que tem beneficiado alguns e penalizado outros, muitos, de múltiplas formas, do protecionismo à dependência tecnológica, passando por exigências ambientais draconianas que tolhem seu desenvolvimento, ou financiamento externo de facções políticas rivais, que tem efeito ainda pior.
Isso leva países a tal estado de pobreza e desesperança da população, que se tornam palco de guerras civis e externas, protagonizadas por extremistas de esquerda e direita, e não raro de mesma ideologia. Com isso, favorecem outro mercado de interesse de nações desenvolvidas: o de armamentos. Guerras ajudam a manter o subdesenvolvimento e a ignorância do povo.
Há culturas que ainda seguem preceitos da Idade Média, negando tudo o que for estranho às suas crenças, inclusive a tecnologia, menos no que se refere a armamentos. Nesse caso, preferem o que há de mais sofisticado e mortal.
Se esses recursos financeiros fossem usados para proporcionar saúde e educação de qualidade, e fomentar empreendimentos que geram empregos, esses conflitos perderiam sentido.
Infelizmente, ainda não atingimos um estágio civilizatório que permita dispensar as forças armadas nacionais, continentais ou privadas. Na ótica de regimes expansionistas e potências militares, isso será considerado uma demonstração de fraqueza.
Os cinco membros do Conselho de Segurança da ONU com poder de veto, todos potências nucleares, não cogitam abrir mão de seus arsenais, tolerando esse tipo de armamento apenas para seus parceiros estratégicos. Um exemplo emblemático é o da Ucrânia, que trocou seu arsenal, o segundo maior da antiga URSS, por garantias de sua independência, para pouco tempo depois ser invadida pela Rússia.
O poderio militar tem servido tanto aos interesses de agressores, prontos para atacar e invadir quem ameace os interesses geopolíticos e econômicos de países e corporações, como para dissuasão de países que tentam preservar sua autodeterminação.
Isso faz com que países dotados de riquezas naturais e produção de alimentos precisem manter poder dissuasório, para conter os “desvios de atenção”, ou “cobiça” de interessados próximos e distantes, mas de longas “garras”.
A “Pax” com “sobrenome” de um país ou império nunca será perene.
Há propostas de outros tipos de “Pax”, baseadas em conceitos que vão do religioso ao laico. Assim, já partem de um princípio antagônico. Cá entre nós, não parece que líderes políticos e religiosos, e seus teóricos e pensadores, estejam interessados nesse congraçamento, a não ser que seus ideais prevaleçam.
Não à toa, temos tantas religiões e ideologias, algumas pregando a conversão absoluta ou extermínio de quem discorde de seus dogmas e, principalmente, de seus líderes. Ainda estamos distantes desse estágio evolutivo. Pelo contrário, parece estar havendo um retrocesso.
Diz um antigo ditado que: “Em casa que não tem pão, todos gritam e ninguém tem razão”. Infelizmente, alguns governantes e meios de comunicação interpretam essa frase de forma populista, adotando a alienação do “panis et circenses” (pão e circo) e da degradação humana.
A falta de perspectiva da população também leva a extremos. Dependendo do caráter, a marginalidade pode ser uma alternativa atraente, mas também há os que não têm o que comer em casa, mas gastam o pouco que têm para assistir seu “time de coração” jogar, vestindo a camisa do clube, quando seus filhos dependem da caridade alheia para terem o que vestir e se alimentar.
Considerando esse triste cenário, a “Pax Oeconomica” é uma utopia?
Bem, ela nunca será efetiva se baseada na “socialização” da pobreza, em “tirar dos ricos para dar aos pobres”, ou pela imposição de uma uniformização sob liderança de "mais iguais”, proposta comum em governos de viés totalitário. Para distribuir renda, é preciso gerar renda, e a geração de renda vem de atividades econômicas, que demandam trabalho, formação e motivação ao mérito.
Assim, a condição necessária para que um país alcance equilíbrio interno e externo é assegurar condições adequadas para o desenvolvimento de seu potencial humano e aproveitamento sustentado de suas riquezas naturais, sem imposições ideológicas, proselitismo político ou privilégios seletivos.
Mas isso não impedirá que “quintas colunas” (oportunistas à disposição de interesses externos), patrulhadores, radicais inconsequentes, defensores de direitos sem deveres e mistificadores continuem a tentar desviar a atenção do povo, para lucrarem com a pobreza e atraso de seus países. Ao menos seus discursos e desvios de atenção serão menos “influentes” e “encantadores”.