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Porto de Santos espera novos acessos para evitar colapso
Com 20 mil caminhões ao dia, frente quer nova pista no Anchieta-lmigrantes
10/07/2024 09h56 Atualizada há 3 meses
Por: Clipping Fonte: Folha de São Paulo
Eduardo Knapp

Para superar gargalo de acessibilidade ao terminal portuário que recebe 20 mil caminhões por dia, alternativas em estudo sugerem construção de uma nova pista no complexo Anchieta-lmigrantes e túnel ligando Santos a Guarujá.

O barulho fica ainda mais forte quando os caminhões sacolejam ao atravessar os buracos. Se incomoda quem passa por alguns segundos, imagine quem fica ali o dia inteiro. “É sempre assim! A depender da hora, você pre - cisa vera fila de caminhões... 

Vai até a rodovia”, diz Dalva Silva, que vende almoços para motoristas, entregando marmitas pela janela de sua casa. 

Não há imagem que represente melhor a discussão sobre os gargalos de acessibilidade do Porto de Santos, o maior do hemisfério sul, como a da Rua Professor Idalino Pinez. Mas ninguém a conhece por esse nome. Para todos, é a Rua do Adubo. São cerca de 700 metros de uma via de mão dupla em área que, na teoria, é residencial. Os caminhões que saem da Rodovia Cônego Domenico Rangoni em direção à margem esquerda do porto, que fica no Guarujá, não têm opção. 

Devem passar pela Rua do Adubo. Para aproveitar o movimento, surgiram ali postos de gasolina e borracharias. “O Porto nunca olhou para o Guarujá. E é no Guarujá que está o espaço para crescimento. Em Santos, não há um metro quadrado disponível”, constata o presidente da APS (Autoridade Portuária de Santos), Anderson Pomini.

Existe a preocupação de que o acesso ao complexo, que abarca também Guarujá e Bertioga (e embreve, Cubatão), possa entrar em colapso no final da próxima década. É o preço da própria eficiência. Nos últimos 30 anos, apenas em dois deles o Porto de Santosnão bateu o próprio recorde de movimentação de cargas. Foram 173,3 milhões de toneladas em 2023, contra 29,1 milhões em 1993, com crescimento médio de 5,9% ao ano. O Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do porto avalia que, em 2040, a movimentação vai chegar a 240,6 milhões de toneladas.

“É só a ponta do iceberg. As projeções não contemplavam expansões previstas para os TUPs [Terminais de Uso Privado] nem estudos para implantação de mais meia dúzia. Se isso acontecer, serão mais 70 ou80 milhões de toneladas em 2040”, diz Frederico Bussinger, ex-diretor da Codesp, atual Autoridade Portuária. Na safra de açúcar de 19931994, a tonelada era embarcada por US$ 44 (R$ 248 em valores atuais). O preço está hoje entre US$ 6 e US$ 8 (R$ 32,5 e R$ 43,3). Eram embarcadas porhora cemtoneladas. Agora está perto de 3.000.

“Antes, eram descarregados oito contêineres por hora. Atualmente, são mais de cem. Mesmo na crise financeira de 2008, o porto nunca faltou ao comércio mundial brasileiro.

O porto se virou”, completa Bussinger.

Segundo a APS, 60% dacarga que chega e sai do porto usa a via rodoviária, 30% são por ferrovias e 10% por dutos. Embora especialistas ressaltem a necessidade também de investir na malha ferroviária, principalmentepor causa do agro, a preocupação geral é com o acesso dos caminhões. 

 

A estimativa é que são 20 mil por dia. Em Santos, 15 mil, e 5.000 no Guarujá.

“É preciso, antes de tudo, discutir como fazer a gestão do complexo. Tenho defendido que o caminho é estabelecer uma governança que envolva as três esferas de poder: federal, estadual e municipal. Sem isso, será impossível resolver o problema dos acessos. Todos sabem o que deve ser feito, mas é preciso vontade piolítica” afirma Fabrizio Pálerocomenico, ex-secretário Nacional dos Portos.

Entre as alternativas à mesa , estão: investir em complexos viários, viadutos, um túnel ligando Santos a Guarujá (em rase de projeto), ampliação do Rodoanel e a construção de uma nova pista do complexo Anchieta-lmigrantes. 

Em maio, foi lançada a Frente Parlamentar Terceira Pista Anchieta-lmigrantes, presidida pela deputada estadual So - lange Freitas (União Brasil). O secretário de Parcerias e Investimentos de SR Rafael Benini, disseque a Ecovias, concessionária do sistema, havia sido contratada para efetuar estudos, projetos e licenciamentos para uma nova ligação entre o planalto e o litoral.

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Por causa da inclinação da pista e dos longos túneis, os caminhões não podem usar a Imigrantes, apenas a Anchieta. Isso significa que 60% da movimentação da principal porta de saída das exportações do país dependem de uma rodovia aberta em 1947.

À Folha, a assessoria da Ecovias confirma ter recebido autorização do governo paulista para elaborar “estudose projetos necessários para a concepção de uma nova ligação”. O prazo para conclusão desses estudos é de dois anos. Sem isso, diz a empresa, não há como estimar tempo e custo da obra. Engenheiros que trabalham com obras portuárias falam em cerca de seis anos.

Em março, o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), anunciou RS 12,6 bi em investimentos em Santos até 2028. Entre eles, estão a contratação para obras de RS 600 milhões, como avenida perimetral (que passa ao lado do porto), viadutos e vias de acesso para o Aeroporto Santos-Guarujá.

Mesmo o túnel entre Santos e Guamjá, uma obra viária que não é necessariamente portuária, entrou no projeto de desestatização. O orçamento previsto é de R$ 6 bilhões. Toda discussão que envolve o porto ganha proporção não apenas peloseu tamanho e importância. É também por envolver os governos federal, estadual, municipal, Autoridade Portuária, iniciativa privada e a comunidade local, que reclama maior participação nas decisões.

A administração do Porto, feita pela APS, é federal. As vias de acesso são de responsabilidade do governo de SP com as prefeituras. A operação do complexo é 100% responsabilidade da iniciativa privada, o que gera conflitos. 

O maior deles, comas prefeituras, é abriga pelo pagamento ou não do IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano). A discussão é se a taxa pode ser cobrada de prestadores de serviços que substituem o poder público e usam imóveis da União para exercer suas atividades. 

Lei municipal em Santos também exige contrapartidas de terminais privados que façam obras com mais de 2.000 metros quadrados. O secretário de Assuntos Portuários e Emprego da cidade, Elias Júnior, estimaque jáforam R$ 300 milhões em reformas de escolas e outros equipamentos públicos.

“O mercado só quer saber de carga, de caminhão e navio entrando, não quer saber se a cidade está degradada. Quando há um movimento de integrar a cidade, tem operador que olha torto. Mas a gente precisa pensar nisso”, afirma Pomini, citando a inauguração, no último dia 5, do Parque Valongo. 

É a reforma de terminais abandonados no centro de Santos para fins turísticos. O investimento inicial foi de R$ 44 milhões. Os planos de expansão do porto passam por novos terminais e berços de atracação na antiga área da Cosipa (em Cubatão), no Canal de Piaçaguera, na Ilha Barnabé e na Area Continental de Santos. No futuro está o porto offshore, que é construído no mar, sem ligação com a terra.

A cada projeto assim, surge a ressalva de que é preciso evitar o colapso no acesso. “Não adianta o porto ter eficiência se não tiver como escoar as cargas, que são a riqueza do país” diz o presidente APS. São discussões para o futuro, que não devem mudar, a curto prazo, a realidade dos caminhões que passam pela Rua do Adubo e produzem o barulho tão incessante quanto insuportável. “Tudo o que fala sobre o porto é fascinante. 

É o lugar em que você vê e sente o cheiro do PIB) resume Fabrizio Pierdomenico. Congestionamento de caminhões na rodovia Anchieta (Serra do Mar) no início da descida sentido Santos