R$ 1,37 bilhão (US$ 250 milhões) em investimentos para o jornalismo da Califórnia! O dinheiro virá do Google e do estado, dos quais a maior parte será destinada a redações na Califórnia e ao lançamento de um "acelerador" de inteligência artificial projetado para apoiar o trabalho dos jornalistas.
Sob a parceria proposta, o Google contribuirá com até US$15 milhões para um fundo de jornalismo no primeiro ano, enquanto o estado da Califórnia investirá US$30 milhões. Nos quatro anos subsequentes, a contribuição da Califórnia cairá para US$10 milhões por ano, enquanto o Google contribuirá com um mínimo de US$20 milhões para o fundo e programas de jornalismo existentes.
A Califórnia passou uma lei obrigado o Google a pagar pelos links que usa de veículos de imprensa. O Google disse que não iria pagar, mas como fez na Austrália e Canadá, acabou negociou e pagou (por um modelo pior que o originalmente proposto).
Aqui no Brasil o PL 2630, a Lei das Fake News, também propunha um fundo de apoio ao jornalismo, mas as big techs não toparam e travaram o processo com o apoio dos políticos da Direita preocupados em perder exposição nas plataformas digitais.
Mas pagar por jornalismo é uma boa? Depende das regras.
O sindicado dos jornalistas na Califórnia, por exemplo, diz que o acordo foi um desastre. "O futuro do jornalismo não deve ser decidido em acordos de bastidores", disseram o Media Guild of the West, o NewsGuild-CWA e outros em uma declaração conjunta.
"A legislatura embarcou em um esforço para regular monopólios e falhou terrivelmente. Agora, questionamos se o estado causou mais mal do que bem. Os jornalistas e trabalhadores de notícias da Califórnia se OPÕEM a este acordo desastroso com o Google e condenam os executivos de notícias que consentiram com isso em nossos nomes".
Para muitos publishers, a avaliação é que é melhor ficar sem remuneração de links do que perder o tráfego do Google e do Facebook, que são essenciais para a grande maioria dos veículos. Desde que começou a polêmica em torno de pagamento por links de notícia, Google e Meta reduziram o alcance do conteúdo jornalístico nas suas plataformas, o que estudos já indicam aumentar o volume de desinformação.
Opositores ao programa da Califórnia, como o WSJ, também dizem que os veículos locais podem se tornar mais favoráveis a governos que bancam a conta para não perderem o benefício.
Outra corrente, a favor da remuneração por parte de Google e Meta, diz que pagar pelo uso do conteúdo de terceiros é um princípio básico da propriedade intelectual (o que este colunista concorda).
Mas polêmicas à parte, existe uma chance do Google e da Meta simplesmente estarem perdendo o bonde da história e comprando a briga errada. Enquanto elas gastam milhões em lobby e se distraem combatendo os veículos de notícias,, a OpenAI tem fechado acordos com dezenas de publicações para ter informações de mais qualidade em suas plataformas e oferecer serviços melhores.
Inclusive, a WAN-IFRA, Associação Mundial de Editores de Notícias, anunciou em maio o lançamento de um programa acelerador para mais de 100 editores de notícias em parceria com a OpenAI. O Newsroom AI Catalyst é um programa projetado para ajudar as redações a acelerar a adoção e implementação de IA, com o objetivo de trazer eficiência e criar conteúdo de qualidade. A Meta já teve um programa semelhante, mas encerrou quando começaram as disputas por remuneração. O Google mantém seu programa, mas com crescentes reclamações de publishers que o dinheiro para quem participa está desaparecendo.
Opinião: O Google de certa forma sofre da mesma arrogância que a Microsoft tinha no início do processo antitruste movido pelo governo americano nos anos 2000. Vale lembrar que a Microsoft perdeu o processo, que durou mais de 10 anos, e só não acabou desmembrada por uma tecnicidade. O juiz do caso da Microsoft, descobriu-se após a decisão contra a Microsoft, encontrava-se com jornalistas para dar informações do processo, o que não é permitido. A Microsoft aproveitou a oportunidade para fazer as pazes com o governo, negociou uma saída honrosa, e evitou ser dividida em diversas empresas. O Google, provavelmente, economizaria tempo e dinheiro se fizesse o mesmo. Mas depois de contratar um exército de advogados e lobistas, não deve ser fácil mudar de rota, sem falar no ego ferido.