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Exportador testa novas rotas para os embarques de algodão
Porto Itapoá (SC) busca ser alternativa para driblar congestionamento em Santos
10/09/2024 16h55
Por: Clipping
Porto de Itapóa, em Santa Catarina, quer concorrer com Santos na exportação de algodão — Foto: Divulgação

Operadores e terminais portuários do Brasil buscam estimular uma diversificação nas rotas de exportação de algodão, à medida que o país aumenta as vendas ao mercado externo. A intenção é viabilizar novos pontos de embarque como alternativas ao Porto de Santos, no litoral paulista, por onde sai a quase totalidade do produto nacional, que tem, como principal destino a China.

“Estudamos e mantemos qualquer rota que faça sentido”, afirma Thaiz Chaiben gerente de Comércio Exterior e Logística da trading chinesa Cofco, que, no ano passado, exportou 400 mil toneladas da fibra a partir do Brasil.

A empresa ainda tem Santos como principal ponto de escoamento da pluma, embarcada por contêineres. Mas o avanço da produção de algodão no Brasil e o aumento da participação do país no mercado internacional — com a liderança mundial nas exportações — estão levando a Cofco a considerar outras rotas logísticas.

“Santos tem mais navios disponíveis e mais rotas marítimas que vão e vem, de forma que sempre se mostrou mais competitivo. Além disso, tem uma oferta de armadores que não se vê em nenhum outro ponto do país. Apesar disso, a safra de algodão vem crescendo e há muito congestionamento em Santos já com a oferta atual”, diz.

No ano passado, a Cofco começou a testar a saída pelo Porto Itapoá, em Santa Catarina. Neste mês, um navio zarpou com destino à Ásia. A executiva não detalha os volumes nem faz projeções sobre o uso da rota pelo Sul neste ano. Mas avalia que a alternativa mostrou-se competitiva e eficiente.

“Apesar da distância maior da origem do algodão, os custos gerais de Itapoá são menores, por exemplo, para estufagem [carregamento completo do contêiner]”, diz, acrescentando que terminais no Norte e Nordeste são menos competitivos por não terem oferta suficiente de navios.

Nova rota

A iniciativa da Cofco vai ao encontro da estratégia da Porto Itapoá, responsável pelo terminal catarinense de contêineres. A administradora portuária pôs em prática um projeto voltado especificamente à exportação de algodão, na tentativa de se consolidar como ponto de embarque do produto.

“Identificamos esse fluxo de algodão como uma oportunidade. O Brasil é o maior exportador global, com grande parte das cargas indo para a Ásia. Conversando com alguns clientes, investimos em uma estrutura interna no terminal, seguindo todos os parâmetros para preservar a qualidade do algodão”, afirma o diretor de Desenvolvimento de Negócios e Experiência do Cliente da Porto Itapoá, Felipe Fioravanti Kaufmann.

No início de julho, a Porto Itapoá anunciou a conclusão de uma estrutura de estufagem para a commodity. Segundo Kaufmann, a iniciativa está em fase-piloto, para avaliar a viabilidade da operação dedicada e, a depender do interesse e da demanda das tradings e embarcadores, aumentar a escala.

Na visão da administradora portuária, Itapoá tende a se consolidar como opção a Santos para o embarque de algodão. A estrutura do porto catarinense tem um armazém exclusivo para recebimento de algodão já na zona primária, sem a operação retro-portuária. Máquinário e pessoal foram designados para a operação com a pluma. No local, são feitos os trâmites de alfândega, e a carga e o contêiner vão para o navio.

Nos primeiros dois meses da operação dedicada, Itapoá embarcou cerca de 500 contêineres de algodão. A projeção é totalizar algo entre 2 mil e 3 mil até o fim do ano. A administração do porto avalia que, em plena atividade, é possível chegar a mil unidades por mês.

Kaufmann credita a viabilidade da rota logística de Itapoá para o algodão, em parte, a uma elevada oferta de frete de retorno, o que aumenta a competitividade do terminal catarinense em relação a Santos. Segundo o executivo, transportadores que chegam com algodão de Estados como Mato Grosso, Bahia ou Goiás pegam o caminho de volta com fretes contratados e carretas carregadas.

Ele afirma que a fase-piloto prosseguirá até o fim do ano, para avaliar os primeiros meses de operação. “Vamos nos sentar com os clientes para avaliar a experiência de qualidade dos serviços, o atendimento. Passando essa análise, vamos buscar soluções em zona primária e até secundária para ganhar volumes”, acrescenta.

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Liderança global
De janeiro a junho deste ano, o Brasil exportou 1,392 milhão de toneladas de algodão, com uma receita de US$ 2,68 bilhões, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea). No mesmo período em 2023, foram 424,5 mil toneladas, a um valor de US$ 796,73 milhões.

Um dos quatro maiores produtores mundiais (junto com Estados Unidos, Índia e China), o Brasil superou os EUA nas vendas externas e assumiu a liderança do comércio global da pluma.

Embora admita que há espaço para novas rotas de exportação, o presidente da Anea, Miguel Faus, ressalta a importância do porto de Santos no sistema logístico do algodão e diz que o local tem recebido investimentos para reforçar as operações. Pelo porto no litoral paulista, os exportadores embarcam mais de 90% da pluma.

Segundo ele, o Brasil deve seguir aumentando a produção e a exportação de algodão, abrindo caminho para diversificação das rotas logísticas. Mas Faus considera a operação complexa, por depender de investimentos a longo prazo e da garantia de regularidade.

“Precisa ter o contêiner vazio — e algodão é exportado em contêiner de 40 pés — e linhas regulares de navegação. Vai acontecer pouco a pouco. O exportador, o trader sempre vai procurar a opção mais eficiente. Tem que fazer sentido economicamente e ser eficiente para estufar, carregar e o navio zarpar”, diz.