O agronegócio é um dos principais vetores de expansão dos investimentos em portos no Brasil. Nos últimos seis anos, os terminais receberam aportes de R$ 42,7 bilhões em investimentos, segundo o Ministério dos Portos e Aeroportos, que informa que os desembolsos chegarão a R$ 75,9 bilhões no intervalo entre 2023 e 2026.
Considerados projetos que já estão em andamento ou que estão perto de começar, autoridades públicas e operadores privados prometem desembolsar quase R$ 10 bilhões nos próximos meses, segundo levantamento do Valor. Integram essa lista os investimentos em alguns dos terminais mais importantes para os embarques da agropecuária nacional.
Hoje, o agro responde por cerca de 60% da movimentação de cargas nos terminais portuários brasileiros. Ao todo, o volume das cargas do agronegócio foi de 383 milhões de toneladas no primeiro semestre deste ano, o que representou um aumento de 3,6% em relação ao mesmo período de 2023, segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Na mesma base de comparação, a movimentação total cresceu 4,3%, para 644,7 milhões de toneladas.
Há projetos de expansão em todas as regiões do país. No Sul, o Porto de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, planeja, em parceria com o Porto de Itapoá, investir R$ 300 milhões em obras de aprofundamentos do canal de acesso à Baía da Babitonga. O Porto de São Francisco do Sul também prepara o arrendamento de seu terminal graneleiro, que hoje está sob responsabilidade da administração pública. A documentação já está em análise no Tribunal de Contas da União (TCU).
Os responsáveis pelo investimento nas obras afirmam que o arranjo financeiro do projeto é inédito no país. O Porto Itapoá financiará a obra com recursos de seu próprio caixa, e a execução ficará sob responsabilidade da SCPar Porto de São Francisco do Sul. O pagamento ao parceiro privado será com recursos das tarifas de uso do canal de acesso, mais uma taxa de juros. A proposta já chegou ao governo federal, responsável por autorizar os trâmites.
Também em Santa Catarina, o Porto de Imbituba está investindo quase R$ 100 milhões para reforçar estruturas, ampliar a capacidade de operações no cais e se consolidar como uma alternativa a Santos (SP) e Paranaguá (PR). O agro representa de 35% a 40% da movimentação de cargas — granéis e contêineres — no terminal.
“É uma questão econômica, [que considera] onde está mais barato movimentar a carga. E Imbituba tem se mostrado um porto eficiente do ponto de vista econômico”, afirma o diretor presidente da SCPar Porto de Imbituba, Urbano Lopes Sousa Netto.
Entre os operadores privados, a Portonave, dona de um terminal especializado em contêineres no município de Navegantes (SC), prevê desembolsos de R$ 1 bilhão para fazer adequações no cais, que tem dois berços de atracação. Com o investimento, a Portonave quer aprofundar o canal de navegação, que passaria a ter calado de 17 metros, o que abriria a possibilidade de, no longo prazo, o terminal receber navios de contêiner com até 400 metros de comprimento.
“Precisamos criar e crescer nesta infraestrutura, porque essa é a demanda do mercado e também porque nós queremos ser competitivos. Os investimentos são constantes”, diz Osmari de Castilho Ribas, diretor-superintendente administrativo da Portonave.
No Rio Grande do Sul, o complexo hidroviário sofreu com os efeitos das fortes chuvas e enchentes de abril e maio. O maior dos terminais portuários do Estado, o de Rio Grande, não chegou a paralisar suas atividades, mas, por segurança, houve a necessidade de redução da profundidade do canal de acesso, o que limitou a movimentação.
No curto prazo, Rio Grande precisará fazer dragagem para que o calado volte ao normal, mas, para o longo prazo, o terminal trabalha com a perspectiva de passar por modernização. A Portos RS, empresa pública que administra o sistema portuário do Estado, planeja investir R$ 400 milhões até 2028 para que Rio Grande fique mais competitivo, diz o presidente da Portos RS, Cristiano Klinger.
Uma evidência de que os investimentos em portos-chave para o agro têm atraído cada vez mais recursos pôde ser vista no dia 21 de agosto, quando o governo federal realizou um leilão de cinco terminais portuários. Não por acaso, os lotes mais concorridos foram pontos de embarque de granéis sólidos. A Usina Petribu, do setor de açúcar arrematou o REC09, no Porto do Recife, com uma oferta de outorga de R$ 500 mil.
A concorrência foi tão acirrada que a disputa foi ao pregão de viva-voz, em que a usina venceu a SCS Armazéns Gerais. Os investimentos projetados no contrato estão estimados em R$ 2,2 milhões.
O secretário de Portos, Alex Sandro de Ávila, disse que o governo federal está cada vez mais de olho nos portos do Arco Norte do país. Uma das estratégias, afirma, será ampliar as estruturas de recebimento de fertilizantes nos portos das regiões Norte e Nordeste. Até 2026, dez áreas serão leiloadas para essa finalidade no país, e mais da metade será no Arco Norte.
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê 35 áreas de expansão de portos entre 2024 e 2026. A estimativa, salientou Ávila, é de R$ 14,5 bilhões de investimentos em empreendimentos públicos. Nos terminais privados do país (TUPs), a projeção é atrair aportes superiores a R$ 40 bilhões.
Os investimentos na infraestrutura portuária são um dos principais temas da edição de 2024 do Fórum Caminhos da Safra, que a “Globo Rural” vai realizar na quarta-feira (28/8), em Brasília, das 8h às 12h30. A inscrição no evento é gratuita, e as vagas, limitadas.