Desde que a carga geral dos saudosos general cargo ships migrou para o contêiner, esse último se transformou no protagonista dos portos. Tanto é assim que jornais e revistas dedicam a maior parte das atenções ao mercado de carga conteinerizada, deixando os demais como algo para ser lembrado ocasionalmente. Dessa forma é comum apresentarem dados estatísticos de “movimentação de carga” que se referem apenas a contêineres, como se “carga” se resumisse a isso.
Não ignoramos a importância econômica e a complexidade tecnológica envolvida na logística portuária e de retro área do contêiner. Mas, para alguém desavisado, parece que o universo do transporte se resume a isso. O público desconhece que existe outro setor que movimenta uma imensidade de mercadorias: o mercado de granéis sólidos e líquidos e de carga break bulk.
Não tenho dados, em uma comparação absoluta, e não proporcional, ouso afirmar que o segmento de granéis e breakbulk movimenta mais trabalhadores e serviços que o contêiner, impactando positivamente na economia, tanto em nível local como regional (colegas e especialistas que tiverem melhores informações que me corrijam ou contribuam).
E devido à migração para um sistema que simplificou o processo para o cliente, levando empresas e profissionais que ingressaram no mercado no século XXI a se distanciarem do transporte convencional, fundamentos básicos e clássicos de shipping acabaram se perdendo com o tempo. O processo que antes exigia a coordenação operacional em terra e a bordo agora se resume na relação com um gate onde o contêiner é entregue ou retirado, apoiado por sistemas de informática cada vez mais relevantes.
Os poucos conhecedores brasileiros de hoje estão atuando como brokers ou à frente de departamentos de chartering de grandes empresas no Brasil e no exterior. Outros se aposentaram e não repassaram conhecimento para os novos do mercado, pois não havia quem se interessasse. E quando há hoje uma situação que exige “descobrirem” os navios break bulk ou graneleiros, os novos se veem literalmente perdidos, sem saber como proceder em etapas que no passado eram comuns a todos.
Ainda bem que temos visto um interesse crescente desses novos profissionais em recuperar esse tempo perdido, pois, como nos relatam, estão sendo obrigados a diversificar suas atividades em consequência de uma saturação do mercado de contêiner e uma cada vez menor margem para ganhos. Isso, além de habilitá-los a atender um nicho de transporte que pode propiciar maior rentabilidade, também contribui para reduzirmos, ainda que de forma muito distante, a diferença de conhecimento que existe entre profissionais brasileiros e os principais centros de Shipping e Chartering da Europa e Ásia.
Talvez assim, quem sabe, deixemos de ser no futuro a eterna filial meramente operacional executora de instruções para nos tornarmos também centro de decisões no afretamento de navios.
por: Roberto Brandão | Consultor na TAP CONSULTING
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