Por meio do projeto Limite do Visível, realizado pelo Governo do Estado da Paraíba na esfera da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties), é possível constatar que a formação profissional é conduzida por um viés social. O projeto oferece oportunidade para jovens que estudaram em escolas da rede pública de ensino conquistarem um diploma em cursos de Tecnologia da Informação. Em julho deste ano, cerca de 110 estudantes das primeiras turmas iniciadas em 2023 irão se formar. Atualmente, 417 jovens estão se profissionalizando na universidade.
O Limite do Visível consiste em dois cursos abertos pela UEPB, com dois anos de duração: um de Tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas (ADS) e outro de Tecnólogo em Ciência de Dados, com as vagas direcionadas exclusivamente para egressos do ensino médio da rede estadual. Os estudantes têm dedicação integral: manhã e noite em sala de aula e à tarde o tempo para estágio, feito em empresas parceiras do projeto, com desafios reais a serem resolvidos. Eles recebem pelo projeto uma bolsa auxílio de R$ 1 mil por mês e notebooks potentes para uso na instituição.
“A política de ciência, tecnologia e inovação executada pelo nosso governador João Azevêdo aponta para setores essenciais visando o crescimento do estado da Paraíba. Entre eles, o desenvolvimento social e econômico da população de baixa renda. O estudo é fundamental para que o jovem possa concorrer a uma vaga de emprego qualificado e a tecnologia é uma área onde a demanda por mão de obra é constante”, analisa o secretário da Secties Claudio Furtado.
Claudio Furtado ressalta que o projeto deverá atender cerca da metade da demanda identificada pelo Caged: “Nos próximos três anos deverão abrir em torno de 4 mil postos de trabalho em TI aqui na Paraíba. Pelo Limite do Visível pretendemos formar 2 mil jovens”.
O projeto foi formulado em parceria com a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), a Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq-PB) e empresas de tecnologia. A construção de um currículo inovador é uma peça-chave desse processo, fornecendo uma visão das necessidades reais das empresas em seu dia a dia. Tem a participação de educadores e profissionais da área; a Fundação Parque Tecnológico Horizontes de Inovação integrou a comissão que construiu a proposta pedagógica curricular dos cursos desenvolvida de forma pioneira em colaboração com as empresas parceiras, o que garante alinhamento das necessidades do mercado com os trâmites acadêmicos.
O projeto Limite do Visível foi concebido a partir de uma lente ampliada em direção à problemática social da “geração nem-nem”, que é a expressão usada para se referir a jovens que ‘nem’ estudam ‘nem’ trabalham. A ausência de ocupação pode levar esses jovens à exclusão social e até à criminalidade, dependendo do ambiente que os cerca.
De acordo com o IBGE, a faixa de jovens entre 18 e 24 anos na Paraíba que nem estudam e nem trabalham é de 37,2%, superior à média nacional (27,8%) e à média dos outros estados do nordeste (35,7%). Dentre os jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho, uma parcela (6,8%) indica que a falta de qualificação profissional é um obstáculo para conseguirem emprego. Portanto, há uma demanda latente por programas que ofereçam oportunidades de formação e qualificação profissional.
Por outro lado, o mercado de trabalho em Tecnologia da Informação (TI), está entre os mais promissores; inclusive integra a onda de transformação digital impulsionada pela inteligência artificial. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Caged, informados pelo setor técnico da Secties, até 2028 a PB terá a oferta de 4 mil vagas de trabalho na área de Tecnologia da Informação.
Visando a construção de pontes entre essas lacunas, hoje são 417 estudantes nas turmas de ADS e Ciência de Dados do Limite do Visível; 34% são jovens mulheres. Além de considerar as cotas para negros, povos originários e pessoa com deficiência, o projeto garante 50% das vagas para mulheres e 50% para homens nas inscrições, para motivar o interesse das mulheres nesta área dominada pelos homens. Clara Mendes, estudante de ADS, relatou que se adaptou completamente ao mundo da TI: “Descobri que isso é o que realmente quero”, afirmou.
Além das oportunidades de emprego, o impacto econômico nas famílias dos estudantes enquanto eles estão no curso é concreto: de acordo com a área técnica da Secties, a bolsa-auxílio de mil reais é a única renda para 20% das famílias. Outro tópico revela que metade das famílias dos estudantes vivem com um salário mínimo por mês.
Considerando a renda per capita familiar, ao incluir-se o valor da bolsa, houve um aumento de 66%. São pessoas que experimentam uma estabilidade financeira maior, com mais perspectivas.
Waldomiro Neto que está concluindo Ciência de Dados, confessou que pensou diversas vezes desistir de um curso superior por ser uma realidade muito distante. “Sempre me sentia muito atrás. Era como se eu tivesse que correr três vezes para chegar perto dos meus colegas graduandos e graças a essa bolsa eu posso ter um pé de igualdade maior e mais efetivo”, relata o estudante.
A bolsa-auxílio também é ferramenta para a permanência no curso, além do acompanhamento ao aluno por uma equipe, quando há ausência ou desinteresse. A taxa média de evasão nos dois cursos é de 12%, uma das mais baixas no Brasil, ( que é em média 60% em cursos de TI, no primeiro semestre - IBGE).
Fazendo parte da turma pioneira de Ciência de Dados, Renan Mendes avisou que quer uma cerimônia de formatura para a qual possa levar sua ‘voinha’! “Não há ninguém mais feliz no mundo do que ela. Serei o primeiro neto a me formar. Sinto uma enorme felicidade ao ver minha avó dizer, com orgulho, que estou cursando Ciência de Dados. Tudo isso só foi possível graças ao projeto Limite do Visível”, declarou Renan.
O Projeto Limite do Visível tem o potencial de gerar impactos significativos no desenvolvimento tecnológico e na inovação do Estado da Paraíba. É a prática da ciência, o uso das tecnologias e a busca pela inovação com a finalidade maior de promover o desenvolvimento da sociedade e uma vida com mais qualidade.
Inscrições: vagas em JP, CG e Patos
As inscrições para as próximas turmas serão feitas por meio de edital a ser publicado em breve, pela Fapesq-PB. Até o momento, as aulas foram no Campus V da UEPB, em João Pessoa, mas a partir de agora estão previstas 250 vagas para Campina Grande e 80 vagas para Patos e 520 vagas para João Pessoa.