Quem nunca apertou a campainha do vizinho e saiu correndo? Essa brincadeira de criança também é um forma de trote. Mas, quando envolvemos o sistema de segurança nesse contexto, não é tão engraçado assim. Cotidianamente, vemos e ouvimos em noticiários que, em caso de emergência, “ligue 190”. São apenas três números simples e decoráveis, no entanto, eles não devem ser utilizados como se fossem a campainha do vizinho. Muitas vezes, pessoas o utilizam para “pregar uma peça” na polícia. Essa prática, embora bastante conhecida pela sociedade, continua sendo realizada por indivíduos anônimos que não entenderam a gravidade do assunto.
Todavia, para quem está diariamente nas ruas realizando patrulhamento pela cidade, cada mensagem recebida do Comitê de Operações Militares (Copom), via rede de rádio, é importante. São inúmeras e distintas as ocorrências que chegam aos policiais militares que estão em uma viatura. Muitas vezes, são simples conflitos, como o som alto do vizinho, porém, existem aquelas mais graves, como um roubo em andamento. Independentemente da natureza da situação, a equipe policial vai até o local averiguar o fato.
Quando a ocorrência tem um desfecho positivo, o sentimento de dever cumprido toma conta dos policiais. Contudo, infelizmente, nem sempre isso ocorre. Por vezes, a polícia recebe uma denúncia e, quando chega ao local, encontra apenas o nada. Sem vítimas, sem testemunhas, enfim, sem crime. Houve um trote.
O problema todo é que quando se mobiliza uma viatura policial para um ponto de sua área de atuação, outra região fica desguarnecida. Muitas das vezes, é nesse exato momento que acontece um crime. O que as pessoas que geram uma falsa ocorrência não param para analisar é que a vítima pode ser um familiar seu. Além disso, essas ligações congestionam o fluxo de atendimento e dificultam o despacho das ocorrências para as equipes policiais que estão nas ruas. As consequências? Maior liberdade de ação para o criminoso, que terá tempo para efetuar o delito e fugir.
Vale ressaltar também que os recursos desperdiçados para atender uma ocorrência inexistente saem do bolso de cada cidadão que, em muitos casos, não consegue atendimento em tempo hábil por conta de um trote. Hoje, a tecnologia disponibiliza formas de rastrear os dados da pessoa que pratica o trote, mas o principal meio de evitar esse tipo de ação é denunciando essa prática negativa e conscientizando as pessoas.
Aos pais, cabe ensinar a seus filhos quão é inconveniente apertar a campainha do vizinho e sair correndo, pois possivelmente, no futuro, essa criança se tornará o cidadão que irá ligar para a polícia em alguma situação de perigo. Aos que já são adultos e ainda praticam o trote, lembre-se de que um dia o prejudicado pode, de fato, ser você.
*Lucas Moura é soldado da Polícia Militar do Acre e exerce a função de jornalista na Assessoria de Comunicação da instituição
The post Trote: quando o criminoso ri por último appeared first on Noticias do Acre .