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Técnologia & Inovação Empreendedorismo

Empresário que morou na rua cria app concorrente da Uber e fatura quase R$ 700 mil no mês

A estratégia deu certo

16/08/2024 09h52 Atualizada há 3 meses
Por: Clipping Diário Fonte: Clipping
Divulgação/Te Levo Mobile
Divulgação/Te Levo Mobile

No primeiro mês em funcionamento, o aplicativo de transporte Te Levo Mobile completou apenas uma das 10 corridas solicitadas. Essa viagem, feita em janeiro de 2022, rendeu à empresa o faturamento de exatos R$ 24,10 - sendo que 85% disso foi para o motorista. Para qualquer pessoa, um resultado como esse poderia ser desestimulador ao ponto de fazê-la desistir do negócio. Mas Sérgio Brito se agarrou àquela ideia como se fosse a única oportunidade que tinha para mudar de vida.

E deu certo. Nos últimos 30 dias, a empresa registrou faturamento de mais de R$ 680 mil. Pouco mais de dois anos depois daquele fatídico primeiro mês, a Te Levo Mobile atende a cerca de 50 mil usuários e está disponível em sete cidades de três estados.

O município de Miguelópolis, no interior de São Paulo, foi o mais recente a ser incluído no mapa de atuação do app - e o que tem maior importância para Sérgio. Foi de lá que ele saiu, com 25 anos, com a promessa de que só retornaria para dar melhores condições aos pais.

Demorou, mas a promessa foi cumprida. Antes do sucesso como empresário, Sérgio trabalhou em uma lavoura de café e chegou a morar na rua.

"Talvez por eu ser o mais velho entre os homens, nasceu em mim a vontade de mudar o quadro da minha família. E nesses pensamentos meus, passou uma Kombi na rua falando mais ou menos assim, com um alto falante: 'Olha, se você quer ganhar dinheiro, venha para o estado de Minas Gerais trabalhar na colheita de café, é muito rentável'", diz Sérgio, que se lembra até o nome da pessoa que dirigia o veículo.

Achando que ali estaria sua sorte, o jovem decidiu fazer a viagem para a cidade de Itamogi, junto com mais ou menos nove pessoas.

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"A gente foi parar no meio de uma fazenda, e era um barracão. Era, totalmente, tipo um serviço escravo mesmo. Você ficava ali naquele barracão, tinha alguém que cozinhava para a gente, a gente dormia no chão", relembra.

Ficou mais ou menos uma semana ali. Depois de presenciar uma briga feia, regada a muita bebida e que envolveu até facadas, Sérgio percebeu que não estava no lugar certo. Ele conta que pegou suas coisas e saiu andando a pé.

"Acredito eu que eu devo ter andado umas três, quatro horas até chegar na cidade mesmo", lembra.

Com o pouco dinheiro que tinha, conseguiu alugar uma casa para ficar, mas com três meses não deu mais conta de pagar o aluguel. Ele, então, teve seu primeiro contato com a rua.

"Eu ficava alternando. Eu trabalhava hoje, aí eu ganhava uma grana, conseguia pagar uma pensão. Aí, no outro dia, eu não conseguia pagar pensão, eu ficava assim na rua", diz.

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Nessas alternâncias, mantinha uma constância: a visita à igreja evangélica aos domingos, costume que trazia de casa.

Sem contato com a família nesse período, foi a igreja que possibilitou esse reencontro. O pai, querendo ter notícias do filho, juntou as duas informações que tinha: ele estava em Itamogi e, conhecendo bem a criação que deu ao menino, com certeza estaria indo à igreja. Começou, então, a ligar para todas as igrejas da cidade, dando as características do filho e perguntando se ele estaria por lá até chegar à resposta positiva.

A vida chamou de novo

Sérgio voltou para casa, mas, vendo tudo do jeito que deixou, decidiu encarar a vida sozinho mais uma vez. Agora, estava mais experiente. Ele não considera que voltou a ser uma pessoa em situação de rua nesse período, mas, sim, precisou dormir ao relento algumas vezes mais.

"Por exemplo, eu trabalhava numa padaria, e aí eu não tinha dinheiro pra poder pagar alguma coisa, alguma pensão e tal, então, eu ficava ali em uma pracinha, ou eu ficava num posto de combustível, até amanhecer, pra eu ir trabalhar de novo", conta.

As coisas começaram a melhorar depois que Sérgio participou de um concurso para ser garoto propaganda de uma escola. O prêmio era uma bolsa de estudos quase completa em uma faculdade.

"Eu escolhi fazer gastronomia. Eu lembro que, no meu processo, eu falava: 'Gente, eu vou dar muito certo se eu deixar de sentir fome'. Então, para eu deixar de sentir fome na minha estratégia de vida, eu tinha que trabalhar dentro de uma cozinha", relembra.

A estratégia deu certo. Concluiu o curso e foi contratado como chef em um famoso hotel em Araxá, também em Minas Gerais. Lá, junto com o salário, tinha suas refeições garantidas e um teto para morar. Mas veio a pandemia, o hotel fechou e Sérgio precisou, novamente, recomeçar.

Com o dinheiro da rescisão, decidiu alugar um carro para rodar como motorista de Uber. Sem referências para dar, Sérgio precisou pagar três meses de aluguéis adiantados como garantia.

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"Era R$ 2.500 por mês. Já dava toda a minha grana, e eu tinha que pagar o seguro também, seguro lá do carro, eu tive que pagar também. Eu sei que eu paguei tudo isso e me sobrou R$ 20. Aí eu fui no posto, pedi esses R$ 20 de combustível, e foi assim que eu recomecei", conta.

A virada de chave de motorista a empreendedor aconteceu durante uma corrida. Estava chovendo e Sérgio levava uma passageira no banco de trás. Em uma desavença que começou por ela querer ir de vidros abaixados na chuva, Sérgio levou um tapa no rosto.

"Eu me debrucei sobre o volante do carro por meia hora, mais ou menos. Eu chorei muito, muito. Eu soluçava, porque eu não achava justo, eu tendo que trabalhar, eu querendo vencer na vida e levar um tapa daquele jeito por alguém que estava de mau humor", diz.

Ele conta que entrou em contato com o suporte da plataforma, mas a resolução só viria no prazo de 10 dias úteis por e-mail.

"Esse dia foi que acendeu o insight. Eu falei: 'Pô, o motorista não tem apoio. E se eu fosse o cara que tivesse um aplicativo para dar apoio para o motorista?'. Aí foi a primeira vez que eu tive a ideia de ter um aplicativo de transporte", conta Sérgio.

Mas como desenvolver um aplicativo do zero, sendo formado em gastronomia? Sérgio buscou quem soubesse do assunto e encontrou uma empresa do Rio de Janeiro para desenvolver a tecnologia que precisava. Todo o resto, no entanto, aprendeu sozinho, vendo tutoriais no Youtube.

O primeiro site da Te Levo Mobile foi criado por Sérgio, através da ferramenta Wix. As primeiras artes de divulgação para redes sociais também foram feitas por Sérgio, depois de aprender a mexer no Canva. Até curso para tráfego pago ele fez.

"O que eu fazia? Rodava [como motorista] até a meia-noite. Da meia-noite até quatro horas, cinco horas da manhã, eu via vídeo no YouTube para aprender as coisas", relembra.

Hoje, Sérgio se orgulha da empresa que desenvolveu. Ele considera que seu foco prioritário é o motorista, depois o passageiro.

"O meu cliente é o motorista. É ele que paga a taxa para mim, então, se esse cara é o meu cliente, eu cuido bem dele. Eu estendo tapete vermelho, eu passo a mãozinha na cabeça dele", diz. Como consequência, ele espera que os motoristas atendam bem os passageiros.

O empreendedor focou em algumas parcerias para oferecer benefícios aos motoristas, como desconto de R$ 0,10 por litro de gasolina em determinados postos; cartão saúde com descontos para os motoristas em clínicas parceiras; e gratificações bônus aos que se destacam na plataforma.

Lá na casa que Sérgio deixou na juventude, não está mais seu pai, morto decorrente da covid-19. Restaram os irmãos e sua mãe, que, em uma depressão após perder o esposo, se queimou gravemente e necessita de tratamentos contínuos, pagos pela empresa do filho.

"Hoje, aquilo que eu queria realmente estou podendo fazer. E a gente vai inaugurar a Te Levo lá em Miguelópolis também. Pois eu saí querendo voltar como vencedor, né?", diz ele, orgulhoso.

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