Eles são responsáveis por transportar 80% das cargas do país, mas enfrentam jornadas exaustivas, desvalorização e riscos constantes.
Os caminhoneiros, outrora símbolos de liberdade e progresso, hoje lutam contra a falta de segurança, a precarização do trabalho e o envelhecimento da categoria.
Com poucos jovens entrando na profissão e muitos veteranos abandonando as estradas, o Brasil pode enfrentar um colapso logístico em breve. Esta matéria mergulha na realidade desses profissionais, ouvindo histórias de perseverança e alertando para um futuro que exige mudanças urgentes.
Maro, um caminhoneiro com 27 anos de estrada, resume a profissão em uma frase: "Trabalho porque preciso, não por gosto." Sua história reflete a de muitos outros: começou por influência do pai, que também era caminhoneiro e morreu ao volante. O romantismo de cruzar o país deu lugar à exaustão, à saudade da família e à sensação de desvalorização.
A pesquisa encomendada pela CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos) revela um cenário preocupante:
99% dos caminhoneiros autônomos são homens, com idade média de 46 anos.
Trabalham 12 horas por dia, ganhando em média R$ 39,50 por hora.
20% nunca fizeram um check-up médico, e 25% usam estimulantes para aguentar as longas jornadas.
A falta de infraestrutura também pesa. Pontos de parada são escassos, os custos na estrada aumentaram, e muitos caminhoneiros relatam abordagens agressivas por parte das autoridades. "Antes havia respeito. Hoje, já chegam com a arma na mão, como se fôssemos bandidos", desabafa Maro.
A profissão enfrenta uma crise de renovação. Dados mostram que:
A idade média dos caminhoneiros subiu de 37 anos (2011) para 46 anos (2023).
21% dos entrevistados têm entre 66 e 70 anos – muitos já deveriam estar aposentados.
Apenas 7% acreditam que ainda estarão na estrada nos próximos 10 anos.
Norival, presidente da FETRABENS-SP, alerta: "O envelhecimento da categoria é evidente. Se nada for feito, teremos um colapso no transporte de cargas." Empresas já sentem o impacto. Rodo Navarro, diretor de uma transportadora, confirma: "Está muito difícil contratar, principalmente para rotas urbanas."
Além disso, os fretes estão cada vez menos rentáveis. "Um frete de Belém a São Paulo paga R$ 5.000, mas depois de impostos, manutenção e salários, sobra quase nada", explica um motorista autônomo.
Se a situação não mudar, o país pode enfrentar um "apagão" no transporte rodoviário, responsável por 80% da logística nacional. Sem renovação de profissionais, as estradas ficarão ainda mais perigosas, e o custo dos fretes pode disparar.
Muitos caminhoneiros, como Amarildo, desaconselham a profissão aos filhos: "Você fica velho antes do tempo, adoece cedo e passa longos períodos longe da família." Outros, porém, ainda veem dignidade no ofício: "Se você levar a sério, pode ter uma vida decente, mas é com muito suor."
A crise dos caminhoneiros não é apenas deles – é de todo o Brasil. Se o governo, as empresas e a sociedade não agirem para melhorar as condições de trabalho, valorizar a categoria e atrair novos profissionais, o país pode enfrentar graves problemas de abastecimento e economia.
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Enquanto isso, homens como Maro e Amarildo seguem na estrada, carregando nas costas não apenas cargas, mas o peso de um sistema que parece ignorá-los. A pergunta que fica é: quem vai dirigir o progresso do Brasil amanhã?
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